Páginas

domingo, 16 de janeiro de 2011

Marina Silva por olhos franceses



por Alexandre Charpentier Muller (Internauta com Marina)

Na França de férias visitando a parte francesa da minha família, procurei saber a percepção de franceses sobre as eleições realizadas no Brasil. Em primeiro lugar, é importante lembrar que na França, diferentemente do Brasil, ser “Verde” significa antes de tudo ser de esquerda. O movimento verde na França é mais antigo e mais estruturado do que o do Brasil, começando pela data de criação do Partido Verde em 1970. Somente 16 anos depois o PV foi criado no Brasil.

Podemos ver claramente que aqui na França tanto a “consciência verde” quanto o conceiro de “sustentabilidade” são muito mais evoluídos do que no Brasil—o lixo é reciclado mesmo em pequenos povoados, usa-se o mínimo de água etc... Ainda assim nenhum candidato do Partido Verde teve um resultado tão expressivo como o de Marina em eleições nationais. Mas vamos passar para o tema do artigo: de uma forma geral o que pensam os franceses sobre Marina Silva?

Para os franceses com quem conversei sobre política brasileira a admiração pela Marina aparece de cara. Dizem que ela é uma ‘injeção de vida’ na política e nas eleições de um país. Aparentemente os franceses estão precisando de dessas injeções também. Com a situação que vive a França nesse momento, um governo de direita com pouca aprovação e o Partido Socialista (o principal partido da oposição) desestruturado e desorganizado, o desânimo para as eleições de 2012 é observável.

Para muitos Marina trouxe de volta as noções de ética, de moral e de aproximação da população com a política, além de uma nova forma pensar o desenvolvimento. Os 20 milhões de votos obtidos por Marina, segundo eles vão se transformar, no mínimo, em uma vaga no segundo turno nas eleições de 2014, se ela se apresentar candidata. A torcida desses franceses é grande para que pelo menos um dos BRIC (Brasil, Rússia, India e China) tenha modelo de um desenvolvimento sustentável. Alguns, no entanto, estão convencidos de que foi uma votação momentânea, porque como os outros candidatos eram fracos, Marina por ser ‘sangue novo’ teria recebido esses votos como forma de protesto.

As críticas feitas à Marina enfocam a questão da religião e da descriminalização do aborto. O discurso da Marina na noite do dia 3 de Outubro, legendado em Francês, escandalizou os franceses. Como de costume, Marina iniciou dizendo que “gostaria se agradecer a Deus por estarmos aqui.” A França tem muito orgulho de ser um país laico e acredita na separação entre estado e governo. Portanto a menção à Deus, para os franceses não caberia em um discurso de uma candidata à presidente do país. Além disso 61% dos franceses acredita que a religião não tem um papel importante em sua vida.

Na França o aborto não é visto como um crime e o direito da mulher a um aborto é defendido, legalizado e reembolsado pelo estado. Portanto as idéias que Marina expressou sobre o aborto durante a campanha parecem para eles, um absurdo e significa, na prática, a mistura da igreja com o estado.

Mas ainda que esses aspectos tenham sido bastante criticados pelo jornal Le Figaro, a popularidade da Marina na França ainda é alta.

Depois dessas informações, podemos nos perguntar: Se a Marina se candidatasse na França, será que os franceses iriam ficar seduzidos e encantados com as visões modernas que ela tem sobre politica, economia, ecologia e ética ou sera que iriam ficar com medo de que ela fosse contra a popular legislação do aborto?


Um comentário: